domingo, 20 de janeiro de 2008
Devaneio
O mundo enlouqueceu
Olhe o dia não amanheceu.
Os criados perderam o pudor
Está tudo invertido!
Tem brasa na latrina,
Tem ácido na tina,
As galinhas têm latido,
Os patos soltam grunhidos,
Os açudes estão coloridos.
Senhor, não se finja de surdo.
Os Padres estão em guerra,
E o motivo é absurdo,
Uns acham que é o fim da Terra,
Outros acham que é melhor dançar,
E seguem junto com os animais,
Deixam o devaneio lhes levar,
Nem mesmo dos mais brutais
Dos povos que adoram pecar
Não há um que a isso se possa comparar.
Senhor, levante agora mesmo.
Há homens na sua porta a cantar,
E não há nada para nos defendermos
Destes que estão a se despir e estrumar,
Pois não há policia, nem ordem, nem lei,
Não há um nobre, soberano ou rei.
E mesmo se tivesse, não teria moral,
Não seria capaz de deter tal multidão,
E estaria com os outros a rolar no chão,
No meio dessa imundice infernal.
Senhor, por que não me dá atenção?
Por que ainda está na cama de roupão?
Não vês que pode ser o apocalipse,
Aquele que há tempos vem sendo premeditado,
Não há nem luz, pois o céu é só eclipse,
E o senhor nem se preocupas, fica deitado.
Não tens medo de todo esse inferno?
De ver acabar o que antes se diria eterno
Ou de tudo acabar e o senhor não ver
Me responda, o que vai fazer?
Minha Senhora, o que posso eu fazer?
Se nesse exato momento estou delirando.
Pelo simples fato de te ver,
Pelo simples fato de estar te escutando,
Veja, estou ouvindo uma narrativa,
De uma raposa no mínimo altiva
Vestida de uma pobre criada,
Há de ser uma mal-amada.
Me acordando com desaforos,
Lançando agouro atrás de agouro.
Minha Senhora Raposa, então diga
Por que não vamos lá fora?
Finjamos que tu és minha amiga
Antes que este lindo dia vá embora.
Daniel Bassani
quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
Dia de Luto
Um sol quase branco pendendo no ar
Prestes a cair sobre esse vento sombrio
Prestes a não mais nos iluminar
É apenas mais um dia de luto
Que não pega ninguém de súbito
Que já não muda o nosso humor
Que já não tem nenhum esplendor.
No cemitério de nossas mentes
Vão sendo enterradas nossas esperanças
Junto com nossos desejos mais dementes
E as nossas mais sublimes lembranças.
No caixão um buquê de sonhos
Emoções queimando nos castiçais
Junto com as carpideiras, choramos
Tristes por sermos tão desiguais
Nós dançamos a marcha fúnebre
E todos aplaudem num imenso fervor
E todos se amam numa terrível febre
Como se não houvesse nenhum temor
É apenas mais um desses dias normais
Que passa sob estas estruturas colossais
Mais um dia que nunca veremos
Que sequer lembraremos.
É apenas outro em que nos ajoelhamos
Implorando momentos mais soberanos
Mas é um ótimo dia quando olhamos
Sentido apenas que somos... humanos.
Daniel Bassani
sábado, 5 de janeiro de 2008
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Fim
Os finais de semana,
O final do ano,
O ponto final que nós damos ao cansaço,
Ou que ele nos dá em nosso fôlego.
O fim da história,
O fim do filme
O fim daquele romance antigo,
De um amor que se juraria ser infinito,
que se juraria ser infindável.
pelos quais nos botamos um fim nos nossos sonhos.
o fim da paz nesse planeta
que dizem não haver fins lucrativos.
que vêem seu fim quando nos saciamos
Nossas esperanças
Que vêem seu fim quando despertamos
colocamos o pé no chão
e no peito o coração.
que nos leva e nos faz deixar
sempre algo para alguém terminar
Mesmo que esse alguém seja o tempo,
que já nos levou e que a tudo levará.
Que traz consigo mais um começo...
E assim vai...
Até nos perdermos nesses confins
Desse tempo louco
Que nos dá tão pouco
que parece ser o único a não acabar
que dá voltas e voltas
E sempre nos deixa aqui a sonhar.
Daniel Bassani
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Diga-me... Nomes para que?
Essa desconcertante mania de nos chamarmos por títulos dados por quem nos deram a vida, que é de certa forma inútil, pois há tantos iguais, indiferente da língua, cor, classe social, religião, etc., etc., é o mesmo nome disfarçado por características da ocasião que no fim tem o mesmo significado, que não nos interessa e/ou não faz significado nenhum para nós, portadores destes nomes.
E os sobrenomes então, algo tão presunçoso como a própria humanidade, nos dizendo que nós pertencemos àquela família, àquele grupo de pessoas que não tem nada em comum há não ser o sobrenome e alguns traços físicos e tirando assim parte da nossa individualidade. E ainda chega a ser pior, trazendo preconceitos disfarçados de falsos preceitos, onde uma família diz-se ser melhor que a outra, colocando obstáculos em relacionamentos que seriam memoráveis se não fossem estes atritos.
Então se quiseres me conhecer, por favor, não me pergunte qual o meu nome, pois eu não sou um nome.
Eu sou essa voz que vos fala, eu sou este rosto que tu vês, este cheiro impuro e orgânico que lhe entope as narinas, este corpo imperfeito que tu sentes o tato, o calor, eu sou o gosto das lagrimas que te fiz chorar ou das pequenas gotas de suor que te fiz suar, esse pensamento que lhe perturba a mente ou esse sentimento que lhe afoga a alma. Nesse caso, dentro da sua própria consciência você saberá quem sou eu, tendo ou não um titulo para este conjunto de atos que num curto instante fez parte da sua existência.
Agora se fui apenas vulto irreconhecível passando em meio à multidão, um pequeno ruído estridente em meio a um confuso falatório, um leve aroma que passou sem sequer ser sentido, apenas mais uma superfície áspera que passou entre tantas outras no dia-a-dia, um gosto seco dentro do seu próprio respirar, ou quem sabe um pressagio de pensamento ou sentimento que passou sem ser realmente pensado ou vivido. Bem, nesse caso é bem mais simples, dentro da sua própria consciência eu não fui nada, e então para que mais títulos se já lhe deram até mais de um: Nada, Ninguém.
Então que tal começarmos nosso relacionamento de uma forma um pouco fora da habitual. Ao invés de falarmos “Bom dia, meu nome é ..., muito prazer” e dar aquele velho e hipócrita aperto de mão simbolizando que vocês se conheceram, quando na realidade sabem apenas o nome um do outro. Vamos tentar falar “Bom dia, este sou eu, por que não chegas mais perto para nos conhecermos melhor?”
Daniel Bassani