terça-feira, 4 de março de 2008

Deslembrar

Tenho o dom do esquecimento
Assim nunca guardei rancores

Mas agora virou um tormento
Esqueci também meus amores

Entreguei meu coração ao vento
Pois não tem porque ele bater

Acho que fui tão desatento
Que acabei esquecendo de viver.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Quanto menos temos, mais nos temos...

É difícil de acreditar em algo deste tipo, pode até parecer algum tipo de voto de pobreza ou alguma filosofia anti-consumista, mas no fundo é bem provável que isto seja bem verdadeiro. Vejamos o homem moderno, ele é cercado por emoções, pensamentos e vontades que muitas das vezes não são próprios dele e sim algo que a sociedade lhe condicionou a ter, esta sociedade que devora o homem e a natureza tornando um egoísta e outro escasso, é de se fazer pensar se esta é a melhor maneira de surgirem nossos sentimentos.

Os homens em sua maioria já não têm auto-conhecimento, muitos nunca pararam para pensar, simplesmente por ser incrível o fato de serem capazes de fazer isto, e até mesmo o amor próprio às vezes não é encontrado e colocam no lugar um misto de orgulhos dos mais falsos e fantásticos possíveis, o orgulho de torcer para aquele time, o orgulho de ser de tal religião, o orgulho de ser desta etnia ou de ter nascido naquele lugar, o orgulho de ter conseguido tais bens. Estes orgulhos funcionam como uma esponja dentro do ser, dando a impressão de que estão cheios e fortes, mas sem lhe dar a sustentabilidade e o equilíbrio, além disso, servem simplesmente para separar todos em diversos grupos cheios de repudio entre si, mas em nenhum desses grupos eles enxergam a verdadeira razão desse sentimento, que eles simplesmente aceitam e tomam como parte de sim, que é natural de seu ser e que sendo natural o outro ser não poderia ser diferente.

Ainda há nossas grandes influencias que sempre estarão lá, “nos formando e nos guiando”, algumas que chegam a ser tão agressivas que conseguem nos consumir, nos obrigando a consumir, mas este não é o ponto aqui, mas sim o fato de que isto misturado com este misto de orgulhos nos fazem não termos tempo senão para saciar nossos desejos de consumidores ou nosso ego com nossos orgulhos, nos tornando seres completamente egoístas, que não pensa em nada além do seu quinhão, e que mesmo quando pensa nos outros por trás há um sentimento que lhe diz que aquilo também será bom para ele próprio. Mas nisso tudo há uma grande incoerência, pois afinal como pode alguém ter um amor tão excessivo a si próprio sem ao menos se conhecer direito por não ter tempo para isto.

Por isso é tão fácil dizer que quanto menos temos, mais nos temos, pois se pudéssemos uma vez ficar longe disso tudo e tentar enxergar as coisas não apenas com os nossos olhos, mas sim numa visão mais global de um todo e ver que o outro também pode sentir exatamente o mesmo que você sente porém em relação a algo oposto, e ver que isto não significa devem se odiar, sem haver a necessidade de ter pavor as diferenças, pois são apenas superficiais. Com isto seria bem provável que nos encontremos nesse todo, ou até mesmo sejamos ele, conhecendo melhor a nós mesmos e com isso caindo em uma incoerência mais benéfica, pois estaríamos pensando mais em nós mas deixando de sermos egoístas, vendo que podemos usar todos estas coisas que nos tornam estranhos no espelho, para nosso bem sim mas sem a idéia ilusória de que algumas dessas sejam essenciais.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Mulheres

Dias acordam-te com um beijo,
café e pão de queijo.
Outros já com gritos,
socos e mais conflitos.

Bom Dia, dizem elas,
mas fecham suas janelas
Cuida-te rapaz, sugerem
mas fecham as portas também.

Não lhe deixam vista,
não deixam abrigo,
Só lhe apontam a pista
e que Deus vá contigo.

Tiram-lhe a paciência,
tiram-lhe a consciência,
e tudo mais que puderem tirar
e ainda põe-se a chorar.

Dizem te amar,
Sem você não conseguir viver.
Que és tudo que podem sonhar,
que não querem mais sofrer.

Ai fica atordoado,
e elas começam a sorrir.
Você se sente dominado,
e o ápice ainda está por vir.

Noite sim, noite não,
tiram-lhe o chão,
tiram-lhe o cobertor,
o seu afeto e o seu amor.

Diz para si não agüentar,
diz para ela não querer,
ela parece não se espantar,
você parece enlouquecer.

Ai acorda no meio da noite
desvestido, suado e sem sorte.
Põe se a fumar, põe-se a pensar,
mas nunca a outra procurar.

Ela já tem outros carinhos
Vocês já são estranhos
Ai começa tudo outra vez
Sempre com a mesma embriagues.

Acorda a verdade enfim
você gosta dessas incertezas
dessas mulheres e suas belezas
e que, afinal, foi sempre assim.

Elas sempre te humilham,
te enganam, te gozam.
Mas sempre te fazem quere-las,
reverencia-las, amá-las.

Mas afinal como maltratar
tal ser tão sublime
Sabendo que vai te cuidar
quando não há nada que te reanime.

Pois assim são elas,
essas criaturas tão belas
que se um nome requer,
só pode ser...mulher.

Daniel Bassani

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Peço-lhes... Vamos ser um pouco mais egocêntricos.

Egocêntrico sim, e no sentido mais puro da palavra, aquele que se refere tudo a si próprio, pois desta forma muitos poderiam entender a si próprios e parar de lamentar os falsos obstáculos que a dura vida os impõe. Pois a maioria não vê que certos problemas que lhes afligem a mente e até mesmo a alma ou o coração para os mais espirituais e sentimentais pode não ser fruto de atos externos, sejam estes de pessoas ou de qualquer outra natureza, e ao invés disso ser de sua própria consciência.

Muitas vezes na vida as pessoas sofrem, sofrem por não ter melhores condições de vida, sofrem por não serem correspondidas em seus relacionamentos, sofrem por serem pressionadas no seu trabalho e na sua casa, e como sofrem, dia após dia lamentando, e às vezes tão fervorosamente quase como se cantasse um hino, e alguns chegam a ponto de lamentarem ser o que são e com isso invejam as vidas dos demais.

E todo este sofrimento poderia ser evitado muitas das vezes se as pessoas se libertassem dos próprios pensamentos, de si próprio, enxergando além do que a situação lhes mostra.
Um bom exemplo é quando nos apaixonamos e ficamos ligeiramente cegos e nos entregamos de braços e peito abertos, e com o tempo tudo o que parecia simplesmente maravilhoso em um determinado ponto, por algum joguete de situações, se torna algo terrível, e a pessoa que antes lhe juraria a vida começa a lhe tratar mal, e “naturalmente” você sofre, e culpa a pessoa por tal sofrimento, afinal foi ela que lhe tratou mal, mas em grande parte das vezes não conseguimos ver além disso, pois afinal se você não tivesse se apaixonado por esta pessoa nada disto teria acontecido, ninguém consegue obrigar a alguém a se apaixonar por outro alguém, e mesmo que consiga lhe persuadir a isso, a culpa não é desta pessoa e sim de si próprio que se deixou ser persuadido, que não teve uma mente razoavelmente forte para resistir a isso.

Outro exemplo é quando se fala referente a estilos de vida, a pessoa tem um estilo de vida simples, modesto, sem luxo algum inveja as pessoas que tem o estilo oposto ao dela, que possui grandes montantes de dinheiro, mas a pessoa não vê que apesar de todas as desigualdades existentes nesta sociedade não se pode culpa-lá pelo seu sofrimento, cabe a ela apenas o encargo de tentar persuadir as pessoas que aquela forma de vida é a melhor que há e por isso todos a cobiçam, e nós vemos exemplos destas tentativas a todo instante, mas não podemos culpar a sociedade se nos deixamos outra vez sermos persuadidos por estas.

No fundo fomos nós que nos auto-adestramos para culpar o outro, pois é bem mais fácil culpar o outro do que culpar a si próprio, é muito mais fácil se reconciliar com alguém que lhe feriu quando este alguém não é você. E se pudéssemos quebrar esse vicio existiria um novo conceito para esta palavra tão mal-vista pela sociedade, que esconde o seu egoísmo, e veríamos que o amor próprio talvez deva existir com um pouco de rancor próprio para nos entendermos melhor e nos mantermos em equilíbrio, por pior que isso possa soar.

Daniel Bassani

domingo, 20 de janeiro de 2008

Devaneio

Senhor, acorde senhor.
O mundo enlouqueceu
Olhe o dia não amanheceu.
Os criados perderam o pudor
Está tudo invertido!
Tem brasa na latrina,
Tem ácido na tina,
As galinhas têm latido,
Os patos soltam grunhidos,
Os açudes estão coloridos.

Senhor, não se finja de surdo.
Os Padres estão em guerra,
E o motivo é absurdo,
Uns acham que é o fim da Terra,
Outros acham que é melhor dançar,
E seguem junto com os animais,
Deixam o devaneio lhes levar,
Nem mesmo dos mais brutais
Dos povos que adoram pecar
Não há um que a isso se possa comparar.

Senhor, levante agora mesmo.
Há homens na sua porta a cantar,
E não há nada para nos defendermos
Destes que estão a se despir e estrumar,
Pois não há policia, nem ordem, nem lei,
Não há um nobre, soberano ou rei.
E mesmo se tivesse, não teria moral,
Não seria capaz de deter tal multidão,
E estaria com os outros a rolar no chão,
No meio dessa imundice infernal.

Senhor, por que não me dá atenção?
Por que ainda está na cama de roupão?
Não vês que pode ser o apocalipse,
Aquele que há tempos vem sendo premeditado,
Não há nem luz, pois o céu é só eclipse,
E o senhor nem se preocupas, fica deitado.
Não tens medo de todo esse inferno?
De ver acabar o que antes se diria eterno
Ou de tudo acabar e o senhor não ver
Me responda, o que vai fazer?

Minha Senhora, o que posso eu fazer?
Se nesse exato momento estou delirando.
Pelo simples fato de te ver,
Pelo simples fato de estar te escutando,
Veja, estou ouvindo uma narrativa,
De uma raposa no mínimo altiva
Vestida de uma pobre criada,
Há de ser uma mal-amada.
Me acordando com desaforos,
Lançando agouro atrás de agouro.

Minha Senhora Raposa, então diga
Por que não vamos lá fora?
Finjamos que tu és minha amiga
Antes que este lindo dia vá embora.

Daniel Bassani

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Dia de Luto

Amanhece um dia claro e frio
Um sol quase branco pendendo no ar
Prestes a cair sobre esse vento sombrio
Prestes a não mais nos iluminar

É apenas mais um dia de luto
Que não pega ninguém de súbito
Que já não muda o nosso humor
Que já não tem nenhum esplendor.

No cemitério de nossas mentes
Vão sendo enterradas nossas esperanças
Junto com nossos desejos mais dementes
E as nossas mais sublimes lembranças.

No caixão um buquê de sonhos
Emoções queimando nos castiçais
Junto com as carpideiras, choramos
Tristes por sermos tão desiguais

Nós dançamos a marcha fúnebre
E todos aplaudem num imenso fervor
E todos se amam numa terrível febre
Como se não houvesse nenhum temor

É apenas mais um desses dias normais
Que passa sob estas estruturas colossais
Mais um dia que nunca veremos
Que sequer lembraremos.

É apenas outro em que nos ajoelhamos
Implorando momentos mais soberanos
Mas é um ótimo dia quando olhamos
Sentido apenas que somos... humanos.

Daniel Bassani

sábado, 5 de janeiro de 2008

Sim...verdade...

"Nossos bosques têm mais vida"

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Fim

Os finais de semana,
O final do ano,
O ponto final que nós damos ao cansaço,
Ou que ele nos dá em nosso fôlego.

O fim da história,
O fim do filme
O fim daquele romance antigo,
De um amor que se juraria ser infinito,
que se juraria ser infindável.

Os fins que justificam os meios
pelos quais nos botamos um fim nos nossos sonhos.

Os meios que trouxeram
o fim da paz nesse planeta
que dizem não haver fins lucrativos.

Nossos desejos
que vêem seu fim quando nos saciamos
Nossas esperanças
Que vêem seu fim quando despertamos
colocamos o pé no chão
e no peito o coração.

Nossa morte, nosso fim.
que nos leva e nos faz deixar
sempre algo para alguém terminar
Mesmo que esse alguém seja o tempo,
que já nos levou e que a tudo levará.

É só mais um fim...
Que traz consigo mais um começo...
E assim vai...
Até nos perdermos nesses confins
Desse tempo louco
Que nos dá tão pouco dele
que parece ser o único a não acabar
que dá voltas e voltas
E sempre nos deixa aqui a sonhar.

Daniel Bassani

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Diga-me... Nomes para que?

Essa desconcertante mania de nos chamarmos por títulos dados por quem nos deram a vida, que é de certa forma inútil, pois há tantos iguais, indiferente da língua, cor, classe social, religião, etc., etc., é o mesmo nome disfarçado por características da ocasião que no fim tem o mesmo significado, que não nos interessa e/ou não faz significado nenhum para nós, portadores destes nomes.

E os sobrenomes então, algo tão presunçoso como a própria humanidade, nos dizendo que nós pertencemos àquela família, àquele grupo de pessoas que não tem nada em comum há não ser o sobrenome e alguns traços físicos e tirando assim parte da nossa individualidade. E ainda chega a ser pior, trazendo preconceitos disfarçados de falsos preceitos, onde uma família diz-se ser melhor que a outra, colocando obstáculos em relacionamentos que seriam memoráveis se não fossem estes atritos.

Então se quiseres me conhecer, por favor, não me pergunte qual o meu nome, pois eu não sou um nome.

Eu sou essa voz que vos fala, eu sou este rosto que tu vês, este cheiro impuro e orgânico que lhe entope as narinas, este corpo imperfeito que tu sentes o tato, o calor, eu sou o gosto das lagrimas que te fiz chorar ou das pequenas gotas de suor que te fiz suar, esse pensamento que lhe perturba a mente ou esse sentimento que lhe afoga a alma. Nesse caso, dentro da sua própria consciência você saberá quem sou eu, tendo ou não um titulo para este conjunto de atos que num curto instante fez parte da sua existência.

Agora se fui apenas vulto irreconhecível passando em meio à multidão, um pequeno ruído estridente em meio a um confuso falatório, um leve aroma que passou sem sequer ser sentido, apenas mais uma superfície áspera que passou entre tantas outras no dia-a-dia, um gosto seco dentro do seu próprio respirar, ou quem sabe um pressagio de pensamento ou sentimento que passou sem ser realmente pensado ou vivido. Bem, nesse caso é bem mais simples, dentro da sua própria consciência eu não fui nada, e então para que mais títulos se já lhe deram até mais de um: Nada, Ninguém.

Então que tal começarmos nosso relacionamento de uma forma um pouco fora da habitual. Ao invés de falarmos “Bom dia, meu nome é ..., muito prazer” e dar aquele velho e hipócrita aperto de mão simbolizando que vocês se conheceram, quando na realidade sabem apenas o nome um do outro. Vamos tentar falar “Bom dia, este sou eu, por que não chegas mais perto para nos conhecermos melhor?”

Daniel Bassani